Mundo – A partir da madrugada desta quarta-feira (27), entrou em vigor o cessar-fogo entre o grupo xiita Hezbollah e Israel no Líbano. Na estrada que liga Beirute ao sul do Líbano, formaram-se filas de carros com pessoas retornando para suas casas após meses de deslocamento.
Com o início do cessar-fogo às 4h, horário local (23h de terça-feira, horário de Brasília), milhares de libaneses deslocados há vários meses dirigiram-se ao sul do país, mesmo com o alerta das Forças de Defesa de Israel (IDF), que aconselharam os moradores a esperarem por um aviso de segurança para o retorno.
“O Comando do Exército pede aos cidadãos que adiem o retorno às vilas e cidades na linha da frente, onde as forças israelenses avançaram, até que a retirada seja concluída conforme o cessar-fogo”, afirmou o exército israelense na rede social X.
Embora o cessar-fogo determine que as IDF devem se retirar completamente do sul do Líbano dentro de 60 dias, a volta das tropas a Israel não será imediata. “Com a entrada em vigor do cessar-fogo, o exército está tomando as medidas necessárias para concluir sua retirada do sul, conforme determinado pelo governo libanês”, declararam as IDF.
No Líbano, a notícia do cessar-fogo foi recebida com desconfiança pelos adultos, enquanto crianças em centros de deslocados expressaram alegria com a perspectiva de voltar para casa.
### O que diz o acordo?
A trégua foi mediada pelos Estados Unidos e França, e prevê a retirada das forças israelenses do Líbano em 60 dias. O Hezbollah, por sua vez, compromete-se a se mover para o norte do Rio Litani, uma fronteira estabelecida após a última guerra com Israel, em 2006. Assim, a área será patrulhada pelo exército libanês e pelas forças da UNIFIL.
O exército libanês também deve enviar 5.000 soldados para o sul do país, segundo o acordo. “Este anúncio criará condições para restaurar a calma duradoura e permitir que os moradores de ambos os países retornem em segurança”, afirmaram as presidências dos EUA e da França em declaração conjunta na terça-feira.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, declarou que este é o momento certo para o cessar-fogo com o Líbano, ressaltando que “a duração dependerá do que acontecer” no país dos cedros. “Mantemos total liberdade de ação militar”, avisou Netanyahu, destacando que Israel retaliará se o Hezbollah violar o acordo.
“Se o Hezbollah violar o acordo e tentar se armar, nós atacaremos. Se tentar reconstruir infraestrutura terrorista perto da fronteira, nós atacaremos”, alertou Netanyahu. Ele também acredita que a trégua permitirá a Israel “intensificar” a pressão sobre o Hamas, contra o qual lidera uma ofensiva na Faixa de Gaza.
Quando o Hezbollah estiver fora do jogo, o Hamas ficará sozinho em Gaza, aumentando a pressão e contribuindo para a missão de libertar reféns, disse Netanyahu durante discurso na televisão. O cessar-fogo também permitirá que Israel “concentre-se na ameaça iraniana”, acrescentou.
O Hamas, por sua vez, saudou o cessar-fogo no Líbano e afirmou que está “pronto” para uma trégua com o exército israelense na Faixa de Gaza. “O anúncio do cessar-fogo no Líbano é uma vitória e um grande sucesso para a resistência”, declarou um alto responsável do Hamas à agência France Presse. “O Hamas está pronto para um acordo de cessar-fogo e para um acordo sério de troca de prisioneiros”, acrescentou.
### “Uma nova página” na história do Líbano
O primeiro-ministro libanês, Najib Mikati, também celebrou o acordo de cessar-fogo, considerando-o “um passo fundamental para restaurar a calma e estabilidade” no país, permitindo o retorno dos cidadãos. Mikati espera que a trégua abra “uma nova página” na história do Líbano e apela a Israel para que “cumpra integralmente” o cessar-fogo e se retire de todas as regiões ocupadas.
A proposta de cessar-fogo também estipula que apenas “as forças militares e de segurança oficiais” no Líbano estão autorizadas a portar armas, conforme um documento do acordo datado de terça-feira, ao qual a Reuters teve acesso. As forças mencionadas incluem as Forças Armadas Libanesas, Forças de Segurança Interna, Segurança Geral, Segurança do Estado, alfândega libanesa e polícia municipal.
O acordo refere-se ao compromisso de ambos os lados de implementar integralmente a Resolução 1701 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que inclui cláusulas sobre o “desarmamento de todos os grupos armados no Líbano”.
O Irã, um dos principais apoiadores do Hezbollah, já reagiu, saudando o fim do que chama de “agressão por parte do Estado israelense”.
Nesta quarta-feira, as forças israelenses dispararam tiros de aviso contra vários veículos para impedi-los de chegar a uma zona proibida em território libanês. Segundo os militares israelenses, os suspeitos acabaram se afastando.
Os combates entre Israel e o Líbano duraram quase um ano e se intensificaram em setembro, quando Tel Aviv aumentou os bombardeios e lançou uma invasão terrestre contra o Hezbollah. O conflito foi o mais mortal no Líbano em décadas, com mais de 3.823 mortos, segundo autoridades locais. Para o presidente do Parlamento do Líbano, a guerra com Israel foi a “fase mais perigosa” da história do país.
* Com informações da Agência RTP