Amazonas – A política sempre nos surpreende com suas amizades calorosas, não é verdade? E quando essas camaradagens rendem contratos que fazem os olhos brilharem, com notas fiscais frias, criam ares dignos de um filme. Eis que em 2023, a recente Operação da Policia Federal intitulada “Dente de Marfim”, jogou os holofote indiscretos em apenas um dos muitos esquemas que o famoso empresário Cirilo Anunciação supostamente está envolvido. A operação “Dente de Marfim” revelou um esquema fraudulento de emissão de notas fiscais frias no valor exorbitante de R$ 48 milhões. No epicentro desse escândalo encontrou-se a empresa de limpeza Mamute Conservação, que conseguiu um contrato com a prefeitura durante a gestão do ex-prefeito Arthur Virgílio. Integrando o chamado “Grupo Político” do esquema na Dente de Marfim, estava Cirilo Anunciação. A investigação da PF junto à Receita Federal apuraram que Cirilo Anunciação e seu sócio na Rede Floresta Viva Comunicação Ltda, Silas de Queiroz Pedrosa, receberam altos valores da Mamute. Confira abaixo um trecho do levantamento das autoridades: Amizades e negócios em família Além das recentes polêmicas envolvendo as investigações da Polícia Federal, um passado recente de escândalos sobre o grupo político de Cirilo também já ganhou a atenção da imprensa amazonense ao longo dos anos, sobretudo durante a gestão de Arthur Virgílio. Cirilo que já foi um dos principais sócios do Grupo Diário de Comunicações, hoje não mais integra o grupo empresarial herdado pelo pai Cassiano Batará, após armar uma grande briga com o seu irmão Cyro, o que resultou em sua expulsão. No entanto, os esquemas econômicos dos irmãos Anunciação parecem superar qualquer desavença familiar. Contratos firmados na pura “camaradagem”, sem qualquer processo licitatório de ampla concorrência, na mesma gestão do ex-prefeito Arthur Virgílio unem não apenas os irmãos, como também o grupo político ao qual eles são inseridos em laços sórdidos. A trama ganha ainda mais nuances quando voltamos a um passado recente e nos deparamos com a licitação ganha por Cyro e Cirilo Anunciação em 2020, para transmissão de TV e rádio da Câmara Municipal de Manaus. Coincidência ou não, nessa mesma época, o deputado Wilker Barreto ocupava a presidência da Câmara de Manaus. Na realidade, a relação da CMM com a família Batará, que controla jornal, rádio, televisão, entre outros, não é recente. Em agosto de 2015, por exemplo, Wilker Barreto contemplou a empresa Rede Floresta Viva de Comunicação Ltda com um modesto contrato de R$ 3 milhões e 700 mil válido por um ano. De lá para cá – e lá se vão sete anos -, a família continua fortemente enraizada, política e comercialmente, na CMM, como se gozasse de direitos vitalícios de forma cômoda e sem qualquer questionamentos. Com a gentil prorrogação do contrato até os dias atuais, a empresa de Cyro continua a prestar os mesmos serviços, ou seja, locação de toda infraestrutura necessária dos sistemas de transmissão, irradiação, estúdio, torre, abrigo, climatização e energia para difundir o sinal de Rádio Câmara de Manaus na frequência de 105,5 MHz, decorrente do Pregão Presencial n.º 016/2018- CMM. Além disso, não era incomum ver Arthur Virgílio Neto em constantes visitas a sede do grupo de comunicação dos irmãos. Era no prédio do Grupo Diário do Amazonas, onde a mágica dos acordos acontecia. Somados, os contratos de Cyro e Cirilo com a TV Câmara e com a Rádio Câmara ao longo da “Era Arthur Virgílio” resultaram em uma “mina de ouro” de R$ 11,1 milhões, uma verdadeira fortuna. Documentos O contrato no valor de aproximadamente R$ 3 milhões e 700 mil, teve duração de um ano e foi firmado para veicular as sessões da câmara na local TV, emissora que nunca teve grande audiência em Manaus, voltou a operar na TV Câmara para viabilizar o sinal digital, com aluguel de equipamentos, instalação e manutenção das transmissões das sessões plenárias ao vivo. Ainda em 2015, Wilker também assinou um contrato com Editoria Ana Cássia, com dispensa de licitação, no valor de R$ 20.400 durante todo o exercício daquele ano, ”posto que a suspensão de tal serviço implicaria em prejuízo à Administração Público”. O serviço ‘contratado’ era o fornecimento do Jornal Diário do Amazonas. Em 2018, ainda como presidente da CMM, Wilker também gastou R$ 2,9 milhões contratando a empresa Amazonas Produtora Cinematográfica Ltda, do empresário Cyro Anunciação, para prestar serviços de rádio na CMM. A empresa tinha o faturamento anual de no máximo R$ 360 mil por ano, porém tirou a sorte grande com o contrato milionário firmado. O contrato de R$ 2,4 milhões pela prestação do serviço por um ano, não custa mais que R$ 20 mil por mês, segundo empresários do ramo. Então, a empresa teria apenas que ceder uma pequena sala para transmissor e espaço em torre para a antena da TV Câmara. Os dois contratos milionários foram fechados com os ”irmãos Batará”, e assim deu-se início a ligação de Wilker com o Grupo Diário de Comunicação, com quem gastou mais de R$ 11 milhões com serviços de Rádio e TV, enquanto era presidente da CMM. Contratação milionária na mira do MP-AM A torre que Wilker Barreto teria alugado enquanto presidente da CMM, não era de propriedade de Cyro. Por este motivo, Cyro acabou sendo acionado judicialmente pela empresa que seria a verdadeira dona da torre. Além disso, Cyro e suas empresas também são investigadas por negócios supostamente superfaturado com a Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam), onde por ‘obra do destino’, está atualmente o ex-presidente da CMM, Wilker Barreto. ‘Velhos hábitos em novo mandato’ Mostrando que o costume do cachimbo deixa sim a boca torta, em dezembro de 2020 Wilker Barreto já como deputado, gastou mais de R$ 60 mil da Cota para Exercício de Atividade Parlamentar (CEAP), o famoso ”Cotão” da Aleam, com divulgação em Rádio, TV e consultoria de comunicação. O que chama atenção no contrato de licitação, é que a mesma empresa foi contratada para ambos os serviços. A Editoria Ana Cássia – detentora dos jornais Diário do Amazonas, Dez minutos e Portal D24AM – e com a Amazonas Produtora Cinematográfica, ambas pertencentes ao Grupo Diário de Comunicação, velho parceiro de Wilker Barreto. De acordo com o Portal da Transparência da Casa Legislativa, Wilker pagou no mês de dezembro de 2020, R$ 31 mil à Editora Ana Cássia que, conforme descrito no espelho das despesas, serviu para ”consultoria de comunicação”. Durante o período de outubro de 2019 a abril de 2020, o deputado mantinha semanalmente uma coluna no jornal Dez Minutos e no Portal 24AM. Que coincidência , não é? Ainda no mesmo mês citado, o deputado pagou R$ 29 mil à Amazonas Produtora Cinematográfica com o objetivo de ”divulgação de rádio e TV de atividade parlamentar”.
Fonte: Portal Cm7